Escala Clínica de Fragilidade
A Escala Clínica de Fragilidade (Frailty Clinical Scale) foi inicialmente proposta em 2005. Para o seu desenvolvimento, os autores originais utilizaram dados provenientes do Canadian Study of Health and Aging Frailty Index. Trata-se de um instrumento simples e validado para pacientes idosos (não se recomenda o seu uso para pacientes jovens).
É um instrumento com alta correlação com o índice de fragilidade e capacidade preditora similar a este. Nele, o avaliador tenta identificar o grau de fragilidade do indivíduo examinado, estratificando-o a partir de descrições curtas. Apesar da presença de figuras ilustrativas, recomenda-se fortemente se basear nas descrições de cada estágio. Como os itens podem ser avaliados a partir de observação direta, a escala pode ser aplicada de forma eficaz por não especialistas de forma rápida e fácil.
No estudo original, os autores propuseram sete estágios. Posteriormente, foram acrescentados mais dois estágios, totalizando nove. Também foram realizadas algumas mudanças de nomenclatura. Estas mudanças ocorreram após a percepção de que, inicialmente, a categoria sete representava uma mistura de dois grupos: um deles composto por indivíduos em doença terminal (mesmo que mantivessem algum grau de independência) e outro com pacientes totalmente dependentes para atividades de vida diária, mas não necessariamente apresentando terminalidade.
A avaliação do indivíduo é clínica e considera a mobilidade, o equilíbrio, o uso de dispositivos de marcha e diversas outras habilidades (comer, vestir-se, cozinhar, realizar compras e organização financeira). Na sua aplicação, deve-se questionar o paciente ou seu cuidador (formal ou familiar) sobre qual seria a sua capacidade funcional nas duas últimas semanas. Tal corte temporal se justifica para avaliar o estado basal do paciente e não uma eventual piora após o curso agudo de doença.
Quanto maior o estágio, maior a gravidade da síndrome de fragilidade e também maior a chance de institucionalização, mortalidade, tempo de internamento hospitalar e em unidade de terapia intensiva e complicações pós-cirúrgicas.
Os três primeiros estágios detectam pacientes com elevado grau de independência e robustez, servindo para estratificar estes indivíduos de acordo com sua aptidão física. Os estágios intermediários (quatro a sete) estratificam o indivíduo quanto ao grau de fragilidade. Os dois estágios finais (oito e nove) são aplicáveis para pacientes em fim de vida.
Como a Escala Clínica de Fragilidade prioriza o julgamento clínico, há possibilidade de diferentes examinadores classificarem o paciente de formas diversas devido à influência da subjetividade na interpretação das descrições do instrumento. Também pode ocorrer de o paciente se encaixar em mais de uma categoria. Nestes casos, recomenda-se que o paciente seja classificado na categoria mais alta.
* Figura obtida em Rodrigues MK, Rodrigues IN, da Silva DJVG, et al. Clinical Frailty Scale: Translation and Cultural Adaptation into the Brazilian Portuguese Language. J Frailty Aging 2021; 10(1): 38-43. doi: 10.14283/jfa.2020.7.
Interpretação*:
Na escala clínica de fragilidade, a principal informação é a classificação do indivíduos em nove estágios, mas pode-se pensar também em três grandes blocos:
Indivíduos robustos:
– Estágio 1: Muito ativo
– Estágio 2: Ativo
– Estágio 3: Regular
Indivíduos frágeis e pré-frágeis:
– Estágio 4: Vulnerável
– Estágio 5: Levemente frágil
– Estágio 6: Moderadamente frágil
– Estágio 7: Muito Frágil
Indivíduos em fim de vida
– Estágio 8: Severamente frágil
– Estágio 9: Doente terminal
Ressalta-se que, mais importante do que avaliações e classificações pontuais, é a aplicação seriada do instrumento e o julgamento quanto a variações ao longo do tempo.
* Salienta-se que os instrumentos de avaliação geriátrica devem ser utilizados em conjunto com anamnese e exame físico. Devendo ser interpretados sob a luz de julgamento clínico
Referências:
Rockwood K, Stadnyk K, MacKnight C, et al. A brief clinical instrument to classify frailty in elderly people. Lancet. 1999; 353(9148):205-6. doi:10.1016/S0140-6736(98)04402-X.
Rockwood K, Song X, MacKnight C et al. A global clinical measure of fitness and frailty in elderly people. CMAJ. 2005 Aug 30;173(5):489-95. doi: 10.1503/cmaj.050051.
Rockwood K, Theou O. Using the Clinical Frailty Scale in Allocating Scarce Health Care Resources. Can Geriatr J. 2020;23(3):210-215. doi: 10.5770/cgj.23.463.
Rodrigues MK, Rodrigues IN, da Silva DJVG, et al. Clinical Frailty Scale: Translation and Cultural Adaptation into the Brazilian Portuguese Language. J Frailty Aging 2021; 10(1): 38-43. doi: 10.14283/jfa.2020.7.