Timed-Up and Go (TUG)
O teste Timed-up and Go (TUG) foi criado com o intuito de verificar a mobilidade do paciente utilizando manobras para o equilíbrio durante a marcha. Trata-se de um instrumento de triagem para avaliar equilíbrio, velocidade de marcha e habilidades funcionais.
O TUG foi baseado no teste proposto por Mathias et al. Estes autores propuseram um instrumento denominado Get-up and Go. Nele, o paciente avaliado deveria levantar-se de uma cadeira (com apoio para braços), andar três metros, retornar para a cadeira e sentar-se novamente. Neste instrumento, o paciente era classificado numa escala de um a cinco a partir da percepção do examinador quanto ao risco para quedas. Contudo, a classificação tendia a ser pouco precisa, especialmente nos números intermediários, havendo o risco de variação dos escores obtidos a depender do examinador.
Para tornar a avaliação mais objetiva, Podsiadlo et al. propuseram a realização do mesmo teste, mas utilizando a medida do tempo necessário para que o paciente completasse a tarefa. Surgia, assim, o Timed up and Go. A medida do tempo, além de tornar o resultado mais objetivo, serve de parâmetro para detecção de mudanças de padrão durante o acompanhamento ao longo do tempo, para avaliar a resposta terapêutica no paciente em contexto de reabilitação, além de poder ser utilizada como métrica comparativa entre diferentes indivíduos. Quanto maior o tempo necessário para completar a tarefa, maior o risco para quedas.
O TUG avalia o paciente em posição sentada, a transferência para posição em pé, a estabilidade e o equilíbrio durante a marcha e ao longo da mudança de direção durante a marcha. Essas diferentes etapas podem ajudar o examinador a detectar algumas alterações: dificuldade de levantar da cadeira pode ter relação com déficit de força (requer maior mobilidade de quadril e joelho em comparação com a marcha em linha reta), e a mudança da direção do movimento pode ter relação com problemas de equilíbrio (quedas são mais propensas a ocorrer neste momento do que na caminhada em linha reta).
As vantagens do TUG são: aplicação rápida e fácil, não há necessidade de material especial ou treinamento específico, o resultado é objetivo e reprodutível, além de poder ser aplicado em idosos na comunidade e naqueles em instituição de longa permanência (ILPI). Como desvantagem, apresenta a possibilidade de interferência de diferentes variáveis no resultado (tamanho da cadeira, apoio para braços, forma de comando, tipo de retorno), devendo o examinador ter o cuidado de seguir o protocolo para aplicação. Salienta-se que, idealmente, não deve ser utilizado de forma isolada para avaliar o risco de quedas. Barry et al. sugerem que o teste seria mais útil para identificar aqueles com alto risco para quedas do que para excluir tal risco.
Orientações:
– O examinador deve dispor de uma cadeira de aproximadamente 46 cm de altura. Esta deve ter para braços a cerca de 65 cm de altura, assim como relógio ou cronômetro;
– Deve haver, no chão, uma marcação clara de uma distância de três metros a ser percorrida;
– O paciente deve utilizar seus calçados de uso regular, assim como o dispositivo de marcha (nenhum, bengala, muleta, andador) que deve estar à mão do paciente para o teste;
– Nenhuma espécie de auxílio deve ser oferecido durante o teste;
– O paciente inicia na posição sentada com os braços apoiados na cadeira e com dispositivo de marcha nas suas mãos;
– Ao sinal, o paciente deve andar três metros no ritmo usual do dia-a-dia, de forma confortável e segura;
– Após completar o percurso, o paciente deve virar-se (evitando uso de algum objeto como pivô), retornar à cadeira e sentar-se novamente;
– O sujeito pode praticar o teste uma vez, sem ser cronometrado, para se familiarizar.
*Para facilitar a aplicação do TUG, criamos o cronômetro abaixo:
Interpretação*:
Apesar de ser um instrumento proposto há muitos anos, ainda não há definição consensual na literatura de um ponto de corte. Muitos dos trabalhos baseiam-se em autorrelato de quedas ou avaliação subjetiva do examinador. Abaixo trazemos algumas propostas interessantes para a interpretação do teste:
Podsiadlo et al. (estudo original):
10s ou menos: poderiam ser considerados independentes e sem alterações do equilíbrio;
20s ou menos: dependentes em muitas atividades de vida diária;
Acima de 20 s: dependentes em muitas atividades de vida diária e mobilidade.
Alexandre et al (coorte prospectiva – Brasil):
Ponto de corte: 12,47 segundos (sensibilidade 73,7%; especificidade 65,8%).
Bohannon (metanálise):
60 – 69 anos: até 09 segundos;
70 – 79 anos: até 10,2 segundos;
80 – 99 anos: até 12,7 segundos.
Barry et al (metanálise):
Alto risco de quedas se 13,5 segundos ou mais (Sensibilidade 31%, Especificidade 74%).
Ressalta-se que, mais importante do que avaliações e classificações pontuais, é a aplicação seriada do instrumento e o julgamento quanto a mudanças funcionais ao longo do tempo.
* Salienta-se que os instrumentos de avaliação geriátrica devem ser utilizados em conjunto com anamnese e exame físico. Devendo ser interpretados sob a luz de julgamento clínico
Referências:
Alexandre TS, Meira DM, Rico NC, Mizuta SK. Accuracy of Timed Up and Go Test for screening risk of falls among community-dwelling elderly. Braz J Phys Ther 2012; 16(5): 381-8. doi: 10.1590/S1413-35552012005000041.
Andrade LCA, Costa GLA, Diogenes LGB, Pimentel PHR. Timed Up and Go test na avaliação de risco de quedas em idosos: uma revisão de literatura. Res, Societ, Develop 2021; 10(13):e321101321615.
Barry E, Galvin R, Keogh C, Horgan F, Fahey T. Is the Timed-up and Go test a useful predictor of risk of falls in community dwelling older adults: a systematic review and meta-analysis. BMC Geriatr 2014; 14: 1. doi: 10.1186/1471-2318-14-14.
Bohannon RW. Reference values for the Timed-up and Go Test: A Descriptive Meta-Analysis. J Geriatr Phys Ther 2006; 29(2):64-68. doi: 10.1519/00139143-200608000-00004.
Cabral ALL. Tradução e validação do teste Timed-up and go e sua correlação com diferentes alturas da cadeira. Brasília. Dissertação [Mestrado em Gerontologia] – Universidade Católica de Brasília; 2011.
Mathias S, Nayak US, Isaacs B. Balance in elderly patients: the “get-up and go test. Arch Phys Med Reahabil 1986; 67(6): 387-9.
Podsiadlo D, Richardson. The timed “Up & Go”: a test of basic functional mobility for frail elderly persons. J Am Geriatric Soc 1991; 39(2): 142-8. Doi:10.1111/j.1532-5415.1991.tb01616.x.
Souza CC de, Valmorbida LA, Oliveira JP, Borsatto AC, Lorenzini M, Knorst MR et al. Mobilidade funcional em idosos institucionalizados e não institucionalizados. Rev bras geriatr gerontol 2013; 16(2): 285-93. doi: 10.1590/S1809-98232013000200008.