Cumulative Illness Rating Scale for Geriatrics(CIRS-G)
O Cumulative Illness Rating Scale (CIRS) foi desenvolvido por Lin et al. em 1968 com o objetivo de revisar os problemas de saúde do paciente de acordo com o sistema corporal afetado. A cada condição clínica era atribuída uma pontuação de zero a quatro, sendo o resultado final a soma de todos os escores.
O instrumento foi posteriormente revisado por Miller et al., no início da década de 1990, com adaptações voltadas à população idosa e foco na avaliação da morbidade, dando origem ao Cumulative Illness Rating Scale for Geriatrics (CIRS-G). Nessa versão, houve a separação entre os sistemas vascular e hematopoiético, além da inclusão da avaliação da mama no escopo do sistema endócrino-metabólico.
O principal objetivo da versão geriátrica do CIRS é rastrear e quantificar a carga de doenças em indivíduos idosos. O CIRS-G mantém um sistema de pontuação baseado no estado clínico atual do paciente. Para facilitar sua aplicação, os autores elaboraram um manual com instruções detalhadas e exemplos práticos. Embora um mesmo problema clínico possa se enquadrar em mais de uma categoria, recomenda-se considerar apenas a pontuação correspondente à condição de maior gravidade.
O CIRS-G avalia 14 órgãos e sistemas: cardiovascular, vascular periférico, hematopoiético, respiratório, órgãos dos sentidos (olhos, ouvidos, nariz e garganta), trato digestivo superior, trato digestivo inferior, fígado, rins, sistema geniturinário, músculo-esquelético e tegumentar, sistema neurológico, endócrino-metabólico e mama, além de doenças psiquiátricas.
De forma genérica, cada problema deve ser julgado quanto à gravidade da seguinte forma:
– Zero: sem problema;
– Um: problema atual de gravidade leve ou problema passado grave. Qualquer problema médico atual que cause desconforto ou incapacidade leve, ou que tenha exacerbações ocasionais que tenham um impacto geral menor na morbidade;
– Dois: Moderada morbidade, necessita de terapia de primeira linha. Condições médicas que exigem medicação diária de natureza “primeira linha”;
– Três: Quadro grave, presença de disfuncionalidade constante ou problemas crônicos não controláveis. São condições crônicas não compensadas com terapia de primeira linha;
– Quatro: Quadros extremamente graves/ Necessidade de tratamento imediato/ Falência de órgão/ Perda funcional grave. Sendo necessário o tratamento imediato ou presença de falência orgânica terminal ou comprometimento grave da função. Este nível descreve os estágios finais da doença ou incapacidade dentro de uma categoria.
Miller et al. propuseram que a análise final do CIRS-G seja feita de cinco maneiras distintas: número total de sistemas acometidos; pontuação global (variando de 0 a 56); índice de gravidade (relação entre pontuação e número de sistemas afetados); número de categorias com escore três; e número de categorias com escore quatro.
Essas diferentes abordagens permitem identificar se o paciente apresenta poucos problemas clínicos de alta gravidade ou múltiplas condições de gravidade leve a moderada, promovendo uma avaliação abrangente da saúde. No entanto, ainda não há consenso sobre qual método de análise é o mais adequado.
O CIRS-G tem sido amplamente utilizado na oncogeriatria como ferramenta preditiva de mortalidade, com boa acurácia em pacientes com neoplasias de mama e próstata. Também se mostra útil na previsão de mortalidade em populações idosas em geral e na estimativa do risco de readmissão hospitalar.
1. Coração:
2. Vascular:
3. Hematopoiético (sangue, vasos, medula e sistema linfático):
4. Respiratório (pulmões, brônquios, traquéia):
5. Olhos, ouvidos, garganta e laringe:
6. Aparelho gastrointestinal superior (esôfago, estômago e duodeno):
7. Aparelho gastrointestinal inferior (intestino e hérnias):
8. Fígado (incluindo sistema biliar e pâncreas):
9. Rins (não inclui outros órgãos do sistema urinário):
10. Gênito-urinário (ureteres, bexiga, uretra, próstata, genitais, útero, ovários):
11. Musculoesquelético e tegumento (músculos, ossos e pele):
12. Neurológico (cérebro, medula espinhal e nervos):
13. Endócrino Metabólico e mama:
14. Psiquiátrico:
Interpretação*:
Apesar das cinco diferentes possibilidades de análise proporcionadas pelo instrumento, ainda não há consenso na literatura sobre a melhor forma de utilizar o CIRS-G. De modo geral, observa-se a adoção da pontuação total como uma variável contínua, sendo que, quanto maior o escore, maior a carga de doença apresentada pelo indivíduo, refletindo o grau de multimorbidade. Diversos estudos propuseram pontos de corte distintos para essa escala, com o objetivo de facilitar a estratificação do risco e a aplicação clínica em contextos específicos. Alguns exemplos abaixo:
Rodrígues et al (2011) – Uso do escore total:
0 – 02 pontos: baixa comorbidade;
03 – 08 pontos: média comorbidade;
Mais de 08 pontos: alta comorbidade.
Benderra (2023) – Avaliação para oncogeriatria:
CIRS-G acima de 17 pontos foi associado a menor sobrevida em todos subgrupos de neoplasias (colorretal, mama, próstata, pulmão).
Gomes FL (2018) – Revisão de literatura para dissertação:
Definição | Estratificação 01 | Estratificação 02 | |
Escore total | Soma de pontos | Zero ponto: Sem comorbidades 01 – 02 pontos: comorbidade leve 03 – 04 pontos: comorbidade moderada 05 pontos ou mais: comorbidade grave | 0 – 02 pontos: sem comorbidades ou comorbidade leve 03 pontos ou mais: comorbidade moderada a grave |
Total de categorias assinaladas | Número de sistemas e/ou órgãos que apresentaram alguma morbidade. | 0-4 categorias 05 ou mais categorias | 0-4 categorias 05 ou mais categorias |
Índice de Gravidade | Índice calculado pela razão entre o escore total e o número total de categorias assinaladas. | 0 a 2,0; Maior que 2,0. | 0 a 2,0; Maior que 2,0. |
Níveis 3 e/ou 4 de gravidade | Número de sistema/órgãos que apresentaram nível 3 e/ou 4 de gravidade. | 0; 01 ou mais. | 0; 01 ou mais. |
Ressalta-se que, mais importante do que avaliações e classificações pontuais, é a aplicação seriada do instrumento e o julgamento quanto a variações ao longo do tempo.
* Salienta-se que os instrumentos de avaliação geriátrica devem ser utilizados em conjunto com anamnese e exame físico. Devendo ser interpretados sob a luz de julgamento clínico
Referências:
Benderra MA, Serrano AG, Paillaud E, Tapia CM, Cudennec T, Chouaïd C, et al.Prognostic value of comorbidities in older patients with cancer: the ELCAPA cohort study. ESMO Open 2023; 8(5): 101831. doi: 10.1016/j.esmoop.2023.101831.
Canoui-Poitrine F, Segaux L, Benderra M, About F, Tournigand C, Laurent M, et al. The prognostic value of eight comorbidity indices in older patients with cancer The ELCAPA cohort study. Cancers (Basel) 2022; 14(9): 2236. doi: 10.3390/cancers14092236.
Dias A, Teixeira-Lopes F, Miranda A, Alves M, Narciso M, Mieiro L, et al. Comorbidity burden assessment in older people admitted to a Portuguese University Hospital. Aging Clin Exp Res 2015; 27(3): 323-8. doi: 10.1007/s40520-014-0280.
Gomes FL. Comorbidade em mulheres com câncer de mama uma avaliação pela Cumulative Illness Rating Scale – Geriatric (CIRS-G). Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz; 2018. 86p.
Linn BS, Linn MW, Gurel L. Cumulative Illness Rating Scale. J Am Geriatr Soc 1968; 16(5): 622-6. doi: 10.1111/j.1532.5415.1968.tb02103.x.
Miller MD, Towers A. A manual guidelines for scoring the Cumulative Illness Rating Scale for Geriatrics (CIRS-G). Pittsburg, PA: University of Pittsburgh; 1991.
Miller MD, Paradis CF, Houck PR, Mazumdar S, Stack JA, et al. Rating chronic medical illness burden in geropsychiatric practice and research: application of the Cumulative Illness Rating Scale. Psychiatry Res 1992; 41(3): 237-48. doi: 10.1016/0165-1781(92)90005-n.
Rodríguez MAZ, Gómez-Pavon J, Fernández PS, Salinas AF, Guzmán LM, et al. Fiabilidade interobservador de los 4 índices de comorbilidad más utilizados en pacientes ancianos. Rev Esp Geriatr Gerontol 2012; 47(2): 67-70. doi: 10.1016/j.regg.2011.09.012.