Mini-exame do Estado Mental (Mini-Mental)
O Mini-Exame do Estado Mental (MEEM ou Mini-Mental ou MEM), proposto por Folstein & Folstein em 1975, é um instrumento de rápida aplicação (entre cinco e dez minutos) concebido para a avaliação seriada de pacientes com queixas cognitivas.
Sua abordagem “mini” deve-se por concentrar-se exclusivamente nos aspectos cognitivos, excluindo questões relacionadas ao humor e outras alterações mentais ou de pensamento.
Este instrumento é destinado ao rastreio de quadros com perda cognitiva, não substituindo avaliações mais aprofundadas. Sua principal função é realizar uma avaliação cognitiva global, enquanto existem outros instrumentos direcionados para domínios cognitivos específicos.
O MEEM é dividido em duas sessões. A primeira necessita apenas de respostas orais e avalia: orientação temporal e espacial, memória imediata, atenção/cálculo e memória de evocação. Na segunda sessão utiliza-se também papel e caneta para a avaliação e engloba o bloco de linguagem (capacidade de nomeação, repetição, comando verbal, comando escrito, construção de frase escrita) e a realização de um desenho. A pontuação total varia de zero a trinta pontos.
Os autores originalmente salientaram a importância de estabelecer um bom relacionamento com o paciente antes da aplicação, aumentando a cooperação e evitando reações catastróficas. É fundamental orientar que o acompanhante/familiar não ajude ou treine o paciente para respostas corretas, mantendo rigor na pontuação durante o exame de rastreio.
Mini-exame do Estado Mental (MEEM)
1 – Orientação temporal:
Perguntar ao paciente sobre orientação no tempo
Observação: um ponto para cada resposta correta
2 – Orientação espacial:
Perguntar ao paciente sobre orientação no espaço
Observação: um ponto para cada resposta correta
3 – Memória Imediata (ou registro):
Relatar o seguinte comando ao paciente: “Vou dizer três palavras e gostaria que você as decorasse pois foi perguntá-las novamente depois”
Observação: um ponto para cada resposta correta
4 – Atenção e cálculo:
Pedir para o paciente realizar subtrações seriadas de sete dígitos a partir de 100.
Observação: um ponto para cada resposta correta
Alternativa: soletrar a palavra mundo de trás para frente (O – D – N – U – M)
5 – Memória de evocação (recall):
Pedir para o paciente repetir as palavras ditas anteriormente.
Observação: um ponto para cada resposta correta
6 – Nomeação:
Mostrar dois objetos corriqueiros e pedir para o paciente nomeá-los.
Observação: um ponto para cada objeto nomeado corretamente
7 – Repetição:
Pedir para o paciente repetir a frase “Nem aqui, nem ali, nem lá”.
Observação: Um ponto se repetir toda a frase corretamente
8 – Comando verbal:
Oferecer uma folha de papel ao paciente. Deve-se entregá-la com as duas mãos e centralizada em relação ao tronco do paciente.
Observação: um ponto para cada ato realizado de forma correta
9 – Comando escrito:
Mostrar uma folha de papel onde esteja escrito, de forma clara e de fácil leitura, o seguinte comando:
Observação: um ponto se ato realizado de forma correta
10 – Escrever uma frase:
Oferecer papel e caneta (ou lápis) e pedir para o paciente escrever uma frase com início, meio e fim.
Observação: um ponto se frase presença de verbo e com sentido
11 – Cópia de desenho:
Pedir para o paciente copiar um desenho com dois pentágonos.
Observação: um ponto se cópia do desenho realizada corretamente
Exemplos de pentágonos para cópia de desenho
Interpretação*:
O Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) é um instrumento de rastreio e para avaliação cognitiva global. Para o estudo de alterações em domínios cognitivos específicos, devem ser utilizados instrumentos dedicados a esse propósito. A consideração do grau de escolaridade é crucial na interpretação do MEEM, pois pessoas com maior escolaridade podem apresentar mais recursos para mascarar a apresentação clínica de demência. Para o diagnóstico de demência, é essencial levar em conta o impacto na funcionalidade do indivíduo e os achados em exames complementares.
Existem diferentes versões do MEEM, e vários pontos de corte foram propostos, dependendo da população estudada. Os autores originais sugeriram um ponto de corte de valores menores que 24 pontos como rastreio positivo, sem considerar a escolaridade ou a idade do indivíduo avaliado.
A seguir, são apresentadas diferentes propostas de ponto de corte realizadas por autores brasileiros, indicando o local do estudo e o ano de sua realização entre parênteses.
Bertolucci (São Paulo/SP – 1994)
Analfabetos: 13
Baixa (01 a 04 anos) e média escolaridade (04 a 08 anos): 18
Alta escolaridade (>08 anos): 26
Almeida (São Paulo/SP – 1998)
Sem escolaridade: 20 pontos
Escolaridade prévia: 24 pontos
Caramelli (2000)
Analfabetos: 18 pontos
Um a três anos: 21 pontos
Quatro e sete anos: 24 pontos
Sete ou mais anos: 26 pontos
Brucki et al. (São Paulo/SP e Catanduva/SP – 2003)
Analfabetos 20;
Um a quatro anos: 25;
Cinco a oito anos: 26,5
Nove a onze anos: 28
Acima de onze anos: 29
Lourenço (Rio de Janeiro/RJ-2006)
Analfabetos: 19 pontos
Instrução escolar: 25 pontos
Kochhann (Porto Alegre/RS – 2010)
Analfabetos: 21 pontos
Baixa escolaridade (01 a 05 anos): 22 pontos
Média escolaridade (06 a 11 anos): 23 pontos
Alta escolaridade (>12 anos): 24 pontos
Aprahamian (Jundiaí /SP – 2011)
Analfabetos: 18 pontos
O consenso de 2022 da Academia Brasileira de Neurologia sobre o diagnóstico da doença de Alzheimer destaca o Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) como um teste de escore cognitivo global. No entanto, não menciona pontos de corte específicos.
Salienta-se que a avaliação seriada é mais crucial do que uma única aplicação pontual do instrumento. Além disso, destaca-se a possibilidade de variação de resultados entre examinadores.
Ressalta-se que, mais importante do que avaliações e classificações pontuais, é a aplicação seriada do instrumento e o julgamento quanto a variações ao longo do tempo.
* Salienta-se que os instrumentos de avaliação geriátrica devem ser utilizados em conjunto com anamnese e exame físico. Devendo ser interpretados sob a luz de julgamento clínico.
Referências:
Almeida OP. Mini Exame do Estado Mental e o diagnóstico de demência no Brasil. Arq Neuropsiquiatr 1998; 56 (3-B): 605-612.
Aprahamian I, Martinelli JE, Cecato J, Yassuda MS. Screening for Alzheimer’s disease among illiterate elderly: accuracy analysis for multiple instruments. J Alzheimers Dis 2011; 26(2):221-9.
Bertolucci PHF, Brucki SMD, Campacci SR, Juliano Y. O Mini-exame do estado mental em uma população geral – Impacto da escolaridade. Arq Neuropsiquiatr 1994; 52(1): 1-7.
Brucki SMD, Nitrini R, Caramelli P, Bertolucci PHF, Okamoto IH. Sugestões para o uso do Mini-Exame do Estado Mental no Brasil. Arq Neuropsiquiatr 2003; 61 (3-B):777-81.
Caramelli P, Nitrini R. Como avaliar de forma breve e objetiva o estado mental de um paciente? Rev Ass Med Brasil 2000; 46(4): 289-311.
Folstein MF, Folstein SE, McHugh PR. “Mini-mental state”. A practical method for grading the cognitive state of patients for the clinician. J Psychiatr Res 1975; 12 (3): 189-198.
Kochhann R, Varela JS, Lisboa CSM, Chaves MLF. The Mini Mental State Examination: Review of cutoff points adjusted for schooling in a large Southern Brazilian sample. Dement Neuropsychol 2010; 4(1):35-41.
Lourenço RA, Veras RP. Mini-Exame do Estado Mental: características psicométricas em idosos ambulatoriais. Rev Saúde Pública 2006; 40(4): 712-719.
Melo DM, Barbosa AJG. O uso do Mini-Exame do Estado Mental em pesquisas com idosos no Brasil: uma revisão sistemática. Ciência e Saúde Coletiva 2015; 20(12): 3865 – 3876.
Schilling LP, Balthazar MLF, Radanovic M, Forlenza OV, Silagi ML, Smid J, et al. Diagnóstico da doença de Alzheimer: recomendações do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia. Dement Neuropsychol 2022; 16 (3 suppl. 1): 25-39.