Índice de Massa Corporal
Adolphe Quetelet foi um matemático belga. Convencido que haveria uma distribuição do tipo normal (ou gaussiana) propôs uma relação entre o peso e o quadrado da altura. Criando, assim, o índice que mais tarde ficou conhecido como índice de Quetelet. Em 1972, Keys e colaboradores introduziram o termo Índice de Massa Corporal (IMC), após estudarem outras fórmulas envolvendo a relação entre peso e altura.
O IMC é um dado antropométrico amplamente utilizado para avaliar o risco nutricional, identificar e classificar indivíduos com obesidade. Ele é especialmente valorizado pela facilidade de cálculo e pela grande divulgação em estudos e práticas médicas. O cálculo do IMC é simples: basta dividir o peso (em quilogramas) pela altura elevada ao quadrado (em metros), resultando em uma unidade de kg/m². Este índice é utilizado mundialmente e é considerado um método não invasivo, de baixo custo, porém apresenta limitações. Uma delas é que o IMC não leva em consideração a distribuição de gordura corporal e o padrão fenotípico da obesidade.
Entre as principais limitações do IMC, destaca-se o seu uso entre os idosos. O envelhecimento provoca mudanças significativas na composição corporal, como o aumento do tecido adiposo, a perda de massa muscular, a redução de altura e a diminuição da proporção de água no corpo. Essas alterações podem comprometer a precisão do IMC, especialmente em indivíduos mais velhos, tornando a avaliação nutricional e de risco associada ao índice menos confiável.
Estas alterações corporais podem estar relacionadas ao fenômeno do paradoxo da obesidade. Alguns idosos classificados como portadores de sobrepeso e obesidade podem ter menor risco de mortalidade em comparação com os demais indivíduos. Contudo, este efeito se perde caso sejam acometidos por obesidade sarcopênica. Nestes casos, há maior substituição de massa muscular por massa gorda e, consequentemente, piores desfechos. Logo, o possível fator protetor seria relacionado à massa e à função muscular, além da ausência de sarcopenia.
Mais importante do que uma avaliação única do peso, grandes variações no peso ao longo do tempo estão associadas a desfechos negativos para a saúde. Além disso, os extremos na avaliação antropométrica — seja no caso de indivíduos abaixo do peso ou obesos — também apresentam maiores riscos de complicações.
Índice de Massa Corporal (IMC)
Interpretação*:
Ainda não há definição na literatura de como interpretar o IMC entre os idosos e quais pontos de corte a serem adotados. O critério mais utilizado é o definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), proposto para a população geral de adultos e idosos. Contudo, Lipschitz propôs valores específicos para população idosa geral. A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), através do estudo SABE (Saúde, Bem-estar e Envelhecimento), propôs cortes voltados para idosos da América e do Caribe.
Organização Mundial da Saúde (OMS):
< 18,5 kg/m2: baixo peso;
18,5 – 24,99 kg/m2: eutrofia;
25 – 29,99 kg/m2: Sobrepeso;
30 – 34,99 kg/m2: Obesidade grau I;
35 – 39,99 kg/m2: Obesidade grau II;
> 40 kg/m2: Obesidade grau III.
Lipschitz:
< 22 kg/m2: baixo peso;
22 – 27 kg/m2: eutrofia;
> 27 kg/m2 : sobrepeso.
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) – Estudo SABE:
≤ 23 kg/m2: baixo peso;
>23,0; <28,0 kg/m2 : eutrófico;
≥28,0 e <30,0 kg/m2 : sobrepeso;
≥30,0 kg/m2 : obesidade.
Ressalta-se que, mais importante do que avaliações e classificações pontuais, é a aplicação seriada do instrumento e o julgamento quanto a variações ao longo do tempo.
* Salienta-se que os instrumentos de avaliação geriátrica devem ser utilizados em conjunto com anamnese e exame físico. Devendo ser interpretados sob a luz de julgamento clínico
Referências:
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