Escore Isquêmico de Hachinski
As duas principais causas de síndromes demenciais são a Doença de Alzheimer e a demência vascular, que pode se apresentar de diferentes formas. Ambas compartilham fatores de risco comuns, como a idade avançada, a síndrome metabólica, entre outros. Frequentemente, a diferenciação entre essas duas condições é difícil, o que pode levar a dificuldades na identificação da demência mista, ou seja, a combinação das duas condições.
Para ajudar na distinção entre esses tipos de demência, Hachinski et al. propuseram, em 1975, um escore clínico baseado no fluxo sanguíneo cerebral. Esse escore, denominado Escore Isquêmico de Hachinski (Hachinski’s Ischaemic Score – HIS), é composto por treze itens derivados de exames físicos e anamnese. Desses treze itens, cinco pontuam dois pontos quando presentes, enquanto os outros somam apenas um ponto. No estudo original, foi observada uma distribuição bimodal na amostra: pacientes com quadros degenerativos (como a Doença de Alzheimer) apresentavam uma pontuação de até quatro pontos, enquanto os pacientes com demência por múltiplos infartos alcançavam sete ou mais pontos.
A acurácia do HIS tem sido explorada em várias revisões e varia de acordo com os critérios adotados, que podem ser clínicos, baseados em exames de imagem ou histopatológicos. A falta de um padrão-ouro para o diagnóstico da demência vascular, assim como as diversas apresentações clínicas dessa condição (como múltiplos infartos, infartos estratégicos ou a doença microvascular de substância branca), torna difícil a comparação entre os diferentes tipos de demência. Quando se comparam quadros degenerativos com não degenerativos, a sensibilidade do HIS varia de 52% a 100%, enquanto a especificidade fica entre 39% e 100%. Já na comparação entre quadros vasculares e não vasculares, a sensibilidade varia entre 24% e 100%, e a especificidade entre 50% e 100%.
Embora o HIS tenha sido desenvolvido para identificar a demência por múltiplos infartos, ele é útil como uma ferramenta complementar para diferenciar quadros vasculares (associação de demências multi-infarto e mistas) daqueles puramente degenerativos. Quanto maior o escore, maior a possibilidade de a demência ter origem vascular. Desde a sua proposta original, o HIS tem sido alvo de críticas de vários autores. Um dos principais questionamentos é sobre os critérios para atribuição de pontos a cada item, além da falta de uma orientação clara para a sua aplicação prática. Embora utilize dados aparentemente simples, o HIS pode gerar interpretações ambíguas, com diferentes pontuações para um mesmo caso. Na época em que o escore foi proposto, não havia exames de imagem de rotina, como tomografia computadorizada ou ressonância magnética, para avaliar o acometimento vascular cerebral, o que justificou a ausência de um critério de imagem. Desde então, várias modificações para o escore foram sugeridas, como as propostas por Rosen (1980), Loeb (1983) e Fischer (1991). Neste contexto, apresentamos o escore original proposto por Hachinski et al.
Escore Isquêmico de Hachinski
Interpretação*:
O Escore Isquêmico de Hachinski tem os seguinte pontos de corte:
Quatro pontos ou menos: sugestivo de demência degenerativa primária
Cinco ou seis pontos: não classificável
Sete pontos ou mais: sugestivo de demência vascular (múltiplos infartos)
Salienta-se que a avaliação seriada é mais crucial do que uma única aplicação pontual do instrumento. Além disso, destaca-se a possibilidade de variação de resultados entre examinadores.
Ressalta-se que, mais importante do que avaliações e classificações pontuais, é a aplicação seriada do instrumento e o julgamento quanto a variações ao longo do tempo.
* Salienta-se que os instrumentos de avaliação geriátrica devem ser utilizados em conjunto com anamnese e exame físico. Devendo ser interpretados sob a luz de julgamento clínico.
Referências:
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