Clinical Dementia Rating (CDR)
O Clinical Dementia Rating (CDR) é um instrumento de avaliação global para pacientes com síndrome demencial. Proposto na Escola de Medicina da Universidade de Washington em um estudo publicado por Hughes et al. (1982), o CDR passou por revisões posteriores.
Inicialmente desenvolvido para portadores da doença de Alzheimer, o CDR também é utilizado para síndromes demenciais de outras etiologias. Ele pode ser aplicado tanto para diagnóstico quanto para estratificação de pacientes afetados. O instrumento avalia a cognição e o comportamento do paciente, além de analisar a influência da perda cognitiva na realização de atividades da vida diária.
O CDR emprega uma entrevista semi-estruturada, obtendo informações diretamente do paciente ou indiretamente de pessoas com quem ele convive. São seis domínios avaliados: memória, orientação, julgamento e solução de problemas, assuntos na comunidade, lar e passatempos, e cuidados pessoais. Cada domínio pode ser classificado em cinco estratos: 0 (nenhum), 0.5 (questionável), 1 (leve), 2 (moderado) ou 3 (grave). O domínio de cuidados pessoais não tem a classificação de 0.5.
Uma das vantagens do CDR é que ele utiliza apenas dados clínicos, sem necessidade de exames complementares, avaliando principalmente o impacto da cognição nos domínios analisados. Durante a aplicação do CDR, deve-se evitar julgar os domínios com base em outras alterações, como anormalidades motoras ou transtornos de humor. Por ser um instrumento simples, o CDR é facilmente aprendido e replicável, apresentando boa concordância entre examinadores. Ele já foi validado em diferentes línguas e populações e, por se tratar de uma avaliação global, apresenta menor influência de “efeito-chão” e “efeito-teto” quando comparado a outros instrumentos, como o Mini-Exame do Estado Mental (MEEM).
Não existem notas de corte para este instrumento baseadas no desempenho populacional, pois os indivíduos avaliados são comparados ao seu próprio desempenho no passado. No caso de pacientes com doença de Alzheimer, há uma tendência de concordância nas pontuações (por exemplo, muitos domínios marcados com 1,0). Se houver uma ampla variação de pontos entre os domínios, pode levantar a suspeita de síndrome demencial não-Alzheimer. Vale ressaltar que a estratificação utilizando o CDR está relacionada a sintomas neuropsiquiátricos, perda de funcionalidade e custos com cuidados.
A aplicação do CDR faz parte da avaliação para dispensação de medicações especiais para a doença de Alzheimer, conforme o protocolo clínico do Ministério da Saúde.
Clinical Dementia Rating – CDR
Para a obtenção do resultado do CDR deve-se ter em mente que o domínio Memória (M) é o principal e todos os demais são secundários. Além disso, algumas regras devem ser respeitadas conforme descritas por Montaño et al (2005):
1- M=2 ou mais categorias secundárias; CDR=M;
Exceto:
2- M=0; 2 categorias=M e 3 categorias≠0; CDR=0,5;
Outras situações
3- M=0,5; demais categorias=0; CDR=0,5;
4- M ≥1; demais categorias<1; CDR=0,5;
5- M=1categoria; 2 categorias<M; 2categorias>M; CDR=M;
6- M>2categorias e <3categorias; CDR=M;
7- M<2categorias e >3categorias; CDR=M;
8- M< ou > 4 categorias secundárias; CDR= maioria das secundárias, exceto quando as categorias forem 0 e M=0,5 (regra 3).
Interpretação*:
O Clinical Dementia Rating estratifica o paciente em:
CDR 0: ausência de demência;
CDR 0.5: demência muito leve/incipiente ou demência indefinida ou questionável (sem repercussão nas atividades de vida diária ou quadros potencialmente reversíveis como nos transtornos de humor);
CDR 1: demência leve
CDR 2: demência moderada
CDR 3: demência grave
Salienta-se que a avaliação seriada é mais crucial do que uma única aplicação pontual do instrumento. Além disso, destaca-se a possibilidade de variação de resultados entre examinadores.
Ressalta-se que, mais importante do que avaliações e classificações pontuais, é a aplicação seriada do instrumento e o julgamento quanto a variações ao longo do tempo.
* Salienta-se que os instrumentos de avaliação geriátrica devem ser utilizados em conjunto com anamnese e exame físico. Devendo ser interpretados sob a luz de julgamento clínico.
Referências:
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