Escala de Performance de Karnofsky
A Escala de Avaliação Funcional de Karnofsky (Karnofsky Performance Scale ou Status – KPS) foi proposta no final da década de 1940 por Karnofsky e Burchenal, em um capítulo do livro Evaluation of Chemotherapeutic Agents, editado por Macleod. O livro resumia um simpósio realizado em Nova Iorque em 1948, e o capítulo intitulava-se The Clinical Evaluation of Chemotherapeutic Agents in Cancer. Os autores estavam entre os pioneiros do uso de agente quimioterápicos e publicaram resultados do uso do agente alquilante nitrogênio mostarda em pacientes com câncer de pulmão. A resposta ao tratamento era avaliada em melhora objetiva (diminuição do tamanho do tumor, redução derrame pleural e de metástases), melhora subjetiva (sensação de bem estar, mais energia, melhora do apetite, dor, tosse, dispneia) e status performance. Essa foi a primeira menção à importância da avaliação do estado funcional em pacientes oncológicos.
A funcionalidade de um indivíduo tem uma relação direta com a descompensação de doenças e impacta as atividades diárias, resultando na piora da qualidade de vida. Diante disso, os autores propuseram um instrumento com onze estágios, classificados de forma percentual, onde valores mais baixos indicam uma pior performance funcional.
Com o tempo, a KPS mostrou-se útil na avaliação do prognóstico de pacientes, inclusive daqueles sem doenças oncológicas. Sua principal vantagem é a aplicabilidade simples e rápida. No entanto, o julgamento dos itens pode ser subjetivo, e a escala se concentra mais em sintomas físicos, deixando de considerar fatores psicológicos, dor e qualidade de vida, que são fundamentais para pacientes em cuidados paliativos.
Existem adaptações da Escala de Karnofsky, como a Thorne-modified Karnofsky (TKPS) e a Australia-modified Karnofsky (AKPS), que visam facilitar o uso em diferentes contextos. Contudo, elas ainda são pouco exploradas na literatura em língua portuguesa.
A capacidade de predizer sobrevida de um paciente oncológico depende de muitas variáveis (localização, histologia, tamanho, resposta à terapêutica etc). De uma forma geral, os pacientes em cuidados paliativos e com KPS abaixo de 50% têm sobrevida estimada abaixo de oito semanas.
Nos idosos, a KPS tem correlação com outros instrumentos de avaliação de funcionalidade, como o Índice de Katz e a Escala de Lawton, além de ser útil para prever hospitalizações, sobrevida e risco de institucionalização.
Interpretação*:
A escala de Karnofsky é autoexplicativa. Péus et al. trazem uma forma interessante de interpretação para facilitar o uso do instrumento a partir das três condições do paciente:
Condição A: paciente apresenta ou não sintomas leves a moderados (dor, alteração de peso, redução de energia)
Condição B: paciente necessita ajuda para atividades básicas e/ou instrumentais (higiene, alimentação, vestimenta etc)
Condição C: paciente necessita passar maior parte do tempo desperto acamado (acima de 50%)
Ressalta-se que, mais importante do que avaliações e classificações pontuais, é a aplicação seriada do instrumento e o julgamento quanto a variações ao longo do tempo.
* Salienta-se que os instrumentos de avaliação geriátrica devem ser utilizados em conjunto com anamnese e exame físico. Devendo ser interpretados sob a luz de julgamento clínico
Referências:
Abernethy AP, Shelby-James T, Fazekas BS, Woods D, Currow DC. The Australia-modified Karnofsky Performance Status (AKPS) scale: a revised scale for contemporary palliative care clinical practice. BMC Palliat Care 2005; 4:7. doi: 10.1186/1472-684X-4-7.
Crooks V, Waller S, Smith T, Hahn TJ. The use of the Karnofsky Performance Scale in determining outcomes and risk in geriatric outpatients. J Gerontol 1991; 46(4): M139-44. doi: 10.1093/geronj/46.4.m139.
Karnofsky DA, Burchenal JH. The clinical evaluation of chemotherapeutic agents in cancer, in Macleod CM: Evaluation of Chemotherapeutic Agents. New York, Columbia, University Press, 1949, p. 199-205.
Péus D, Newcomb N, Hofer S. Appraisal of the Karnofsky Performance Status and proposal of a simple algorithmic system for its evaluation. BMC Med Inform Decis Mak 2013; 13:72. doi: 10.1186/1472-6947-13-72.
Schag CC, Heinrich RL, Ganz PA. Karnofsky Performance Status Revisited: reliability, validity and guidelines. J Clin Oncol 1984; 2(3): 187-93. doi: 10.1200/JCO.1984.2.3.187.
Timmermann C. ‘Just give me the best quality of life questionnaire: the Karnofsky scale and the history of quality of life measurements in cancer trials. Chronic Illn 2013; 9(3): 179-90. doi: 10.1177/1742395312466903.
Yates JW, Chalmer B, McKegney FP. Evaluation of patients with advanced cancer using the Karnofsky Performance Status. Cancer 1980; 45(8): 2220-4. doi: 10.1002/1097-0142(19800415)45:8<2220::aid-cncr2820450835>3.0.co;2-q