Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer
No início dos anos 1980, Pfeffer e colaboradores publicaram dois trabalhos científicos propondo um instrumento para diferenciar idosos com quadros demenciais daqueles não portadores. O foco era em pacientes vivendo em comunidade. O racional era que o instrumento fosse independente do status socioeconômico e grau de escolaridade, devendo mensurar a funcionalidade social atual, relativa à capacidade nativa do indivíduo. Intencionalmente, os descritores de capacidade cognitiva foram suprimidos, focando-se na funcionalidade do indivíduo. Surgia assim o Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer (Pfeffer’s Functional Activities Questionnaire – PFAQ), um instrumento para avaliação das atividades instrumentais de vida diária (AIVD).
No trabalho de 1982, os autores compararam o novo instrumento com aquele proposto por Lawton & Brody (outro instrumento para avaliar as AIVDs). Verificaram que o PFAQ apresentou melhor equilíbrio para avaliar a funcionalidade entre sensibilidade e especificidade (Sensibilidade 85%, Especificidade 81%) do que o primeiro (S 57% e E 92%). Provavelmente, isso foi verificado porque o PFAQ avalia atividades mais complexas e tem maior possibilidade de variação da escala de classificação. Quando associado a um instrumento para avaliação cognitiva, parece ser útil para distinguir o envelhecimento normal do paciente com quadro demencial, com a capacidade de reduzir os falsos-positivos.
O PFAQ avalia a performance do indivíduo em dez atividades distintas. Em cada uma, há quatro níveis possíveis para pontuação (zero a três pontos). O escore final é realizado pela soma simples dos itens julgados (variando entre zero e 30 pontos). Quanto menor a pontuação, maior a independência e autonomia. O instrumento deve ser aplicado por alguma pessoa que conviva com o idoso com suspeita de quadro demencial, tendo em vista a possibilidade de relato inconsistente quando respondido pelo próprio paciente.
Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer
Interpretação*:
Há diferentes propostas para pontos de corte utilizados na literatura, tanto para funcionalidade quanto para avaliação cognitiva.
Avaliação funcional (Pfeffer, 1982):
Dependência funcional: 06 pontos ou mais (Sensibilidade 85%, Especificidade 81%)
Avaliação cognitiva (Jacinto, 2008; Jacinto 2014):
Estudo em ambulatório geral na cidade de São Paulo com idosos de baixa escolaridade. Após triagem inicial com Mini-Mental ou short-IQCODE (pontos de corte usuais), o paciente foi considerado como rastreio positivo para demência se:
– PFAQ (corte: 03 pontos): Sensibilidade (S)84% e Especificidade (E) 94%;
– PFAQ (corte: 03 pontos) e fluência verbal semântica com animais (corte: 10 pontos) S 88,4% E 93,5%;
– PFAQ (corte: 03 pontos) e Teste do Desenho do Relógio (corte: 06 pontos – versão Sunderland) S 93% E 92,5%
Avaliação cognitiva (Aprahamian, 2011):
Analfabetos: 12 pontos S 85,3% E 76,5%
Ressalta-se que, mais importante do que avaliações e classificações pontuais, é a aplicação seriada do instrumento e o julgamento quanto a mudanças funcionais ao longo do tempo.
* Salienta-se que os instrumentos de avaliação geriátrica devem ser utilizados em conjunto com anamnese e exame físico. Devendo ser interpretados sob a luz de julgamento clínico.
Referências:
Aprahamian I, Martinelli JE, Cecato J, Yassuda MS. Screening for Alzheimer’s disease among illiterate elderly: accuracy analysis for multiple instruments. J Alzheimers Dis 2011; 26(2):221-9.
Assis LO, Assis MG, Paula JJ, Malloy-Diniz LF. O questionário de atividades funcionais de Pfeffer: Revisão integrativa da literatura brasileira. Estud Interdiscipl envelhec 2015; 20(1):297-324.
Dutra MC, Ribeiro RS, Pinheiro SB, Melo GF, Carvalho GA. Accuracy and reliability of the Pfeffer Questionnaire for the Brazilian elderly population. Dement Neuropsychol 2015; 9(2): 176-83.
Jacinto AF. Alterações cognitivas em pacientes idosos atendidos em ambulatório geral de clínica médica: Tese para obtenção do título de doutor em ciências. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2008.
Jacinto AF, Brucki SMD, Porto CS, Martins MA, Citero VA, Nitrini R. Suggested instruments for General Practitioners in countries with low schooling to screen for cognitive impairment in the elderly. Int Psychogeriatr 2014; 26(7):1121-5. doi: 10.1017/S1041610214000325.
Pfeffer RI, Kurosaki TT, Harrah Jr CH, Chance JM, Bates D, Detels S et al. A survey diagnostic tool for senile dementia 1981; 114(4):515-27. doi: 10.1093/oxfordjournals.aje.a113217.
Pfeffer RI, Kurosaki TT, Harrah Jr CH, Chance JM, Filos S. Measurement of functional activities in older adults in the community. J Gerontol 1982; 37(3): 323-9. doi: 10.1093/geronj/37.3.323.
Sanchez MAS, Correa PCR, Lourenço RA. Cross-cultural Adaptation of the “Functional Activities Questionnaire – FAQ” for use in Brazil. Dement Neuropsychol 2011; 5(4):322-327.