Escala de Equilíbrio de Berg
O equilíbrio corporal é a capacidade de manter-se de pé, em posição ereta (equilíbrio estático), e de realizar movimentos de aceleração e rotação do corpo sem apresentar quedas, desvios ou oscilações (equilíbrio dinâmico). A manutenção postural depende da integração de diversas áreas do sistema nervoso, como cerebelo, tronco cerebral, áreas vestibulares, sistema visual e sistema proprioceptivo, além da resposta muscular aos estímulos nervosos.
As alterações do equilíbrio devem ser investigadas em idosos com histórico de quedas. Durante a anamnese, o paciente com alteração do equilíbrio pode queixar-se de falta de segurança para andar, tendência a quedas e sensação de instabilidade durante a marcha.
A Escala de Equilíbrio de Berg (EEB ou Berg Balance Scale) foi proposta em um estudo preliminar de 1989, com posterior validação em 1992. Foi construída com a participação de profissionais de diferentes áreas da saúde (enfermagem, medicina, fisioterapia e terapia ocupacional) em Montreal, no Canadá. Para sua aplicação, o paciente é submetido a 14 tarefas que avaliam o equilíbrio sob diferentes óticas: postura estática, equilíbrio dinâmico e movimentação ao longo de uma base fixa. Cada tarefa pode pontuar entre zero e quatro pontos. A pontuação final da escala pode variar de zero a 56 pontos, com pontuações mais elevadas indicando melhor capacidade de equilíbrio.
A EEB é um teste simples, de fácil aplicação e relativamente seguro para ser realizado em indivíduos idosos. É principalmente aplicado em idosos frágeis e em pacientes em programas de reabilitação do equilíbrio, independentemente da idade. Durante sua aplicação, há a avaliação do equilíbrio em diversas situações do cotidiano, como virar-se, ficar de pé, levantar e inclinar para frente. Sua capacidade de quantificar numericamente o equilíbrio serve para o seguimento de pacientes e a avaliação da progressão das intervenções clínicas para reabilitação. A EEB também é amplamente utilizada em pesquisas e apresenta boa correlação com o teste Timed Up and Go e com a subescala de equilíbrio de Tinetti. Pode ser aplicada em idosos na comunidade, em instituições de longa permanência e também nos hospitalizados.
Uma desvantagem da EEB é o tempo necessário para sua realização (cerca de 15 a 20 minutos). Além disso, a escala tem pouco poder de predizer quedas em idosos saudáveis e fisicamente ativos (efeito teto).
Escala de Equilíbrio de Berg
Interpretação*:
Na Escala de Equilíbrio de Berg quanto menor a pontuação maior o risco para quedas. Há diferentes proposições quanto ao ponto de corte a ser utilizado a depender do cenário clínico em que se encontra o paciente (comunidade, institucionalizado, hospitalizado, em reabilitação etc). Idosos mais longevos tendem a ter pontuações menores, assim como os que utilizam dispositivos assistivos (bengala ou muleta). Apresentamos os pontos de corte sugeridos por diferentes autores. Assim como a sensibilidade (S) e especificidade (E) quando apresentado nas publicações.
Idosos em Comunidade
Berg e cols (1992):
Acima de 45 pontos: seguro para deambulação independente
Abaixo de 45 pontos: necessita de investigação, supervisão ou uso de dispositivos assistido
Shumway-Cook e cols (1997)
Ponto de corte: 49 pontos ou menos (S 77%, E 86%)
Abaixo de 36 pontos o risco de quedas (06 meses) é próximo a 100%
Santos e cols (2010)
Ponto de corte: 49 pontos ou menos (para não praticantes de atividade física) (S 91% E 92%)
Escala não alcançou sensibilidade suficiente entre os praticantes de atividade física
Idosos Institucionalizados
Nackachima e cols (2020)
Ponto de corte: 49 pontos ou menos (S 72%, E 74%)
Ressalta-se que, mais importante do que avaliações e classificações pontuais, é a aplicação seriada do instrumento e o julgamento quanto a mudanças funcionais ao longo do tempo.
* Salienta-se que os instrumentos de avaliação geriátrica devem ser utilizados em conjunto com anamnese e exame físico. Devendo ser interpretados sob a luz de julgamento clínico
Referências:
Berg KO, Wood-Dauphinee SLW, Williams JI, Gayton D. Measuring balance in the elderly: preliminary development of an instrument.Physiotherapy Canada 1989 41:6, 304-311.
Berg KO, Wood-Dauphinee SLW, Williams JI, Maki B. Measuring balance in the elderly: validation of an instrument. Can J Public Health. 1992 Jul-Aug:83 Suppl 2:S7-11.
Miyamoto ST, Lombardi Junior I, Berg KO, Ramos LR, Natour J. Brazilian version of the Berg balance scale. Braz J Med Biol Res [Internet]. 2004;37(9):1411–21. doi: 10.1590/S0100-879X2004000900017.
Nackachima MA, Souza ML, Scheicher ME. Determinação de valores de referência para os testes Escala de Equilíbrio de Berg e Velocidade de Marcha em idosos institucionalizados. Rev Kairos-Gerontol 2002; 23(3): 241-252. doi: 10.23925/2176-901X.2020v23i3p241-252
Santos GM, Souza ACS, Virtuoso JF et al. Valores preditivos para o risco de quedas em idosos praticantes e não praticantes de atividade física por meio do uso da escala de equilíbrio de Berg. Rev Bras Fisioter 2011; 15(2):95-101.
Shumway-Cook A, Baldwin M, Polissar NL et al. Predicting the probability for falls in community-dwelling older adults. Phys Ther 1997; 77(8):812-9. doi: 10.1093/ptj/77.8.812.