Escala de Hoehn e Yahr
A Escala de Hoehn e Yahr, proposta em 1967 por Margaret Hoehn e Melvin Yahr, surgiu da necessidade de avaliar a extensão da síndrome parkinsoniana em pacientes acompanhados na Vanderbilt Clinic entre 1949 e 1964. Devido à grande variabilidade de apresentação clínica, dificultando a avaliação dos resultados terapêuticos, a escala se tornou uma ferramenta contínua de estratificação dos pacientes, graças à sua simplicidade e fácil reprodutibilidade.
O instrumento combina avaliação de déficits funcionais e sinais objetivos, estratificando o paciente em estágios de I a V de acordo com o acometimento unilateral ou bilateral da doença, assim como o grau de comprometimento da marcha e equilíbrio (presente a partir do estágio III). O estágio V está relacionado a quadros mais avançados, associados a um maior tempo de progressão da doença, como mencionado no estudo original dos autores.
Na década de 1990, uma versão modificada da escala foi proposta para abranger apresentações clínicas não contempladas na versão original. Foram introduzidos os estágios 1.5 (envolvimento unilateral com acometimento axial) e 2.5 (doença bilateral leve com recuperação no pull test). Além disso, houve a inclusão do teste de retropulsão (pull test) para a avaliação, diferenciando-o do empurrão frontal mencionado na escala original.
Os estágios mais avançados da escala estão relacionados a uma piora na funcionalidade e perda de independência do paciente, resultando em queda na qualidade de vida, menor transmissão dopaminérgica, deterioração cognitiva, entre outros aspectos.
Entretanto, a escala apresenta limitações, como a falta de consideração da intensidade do comprometimento (um quadro grave unilateral no lado dominante pode ser mais incapacitante do que quadros bilaterais leves) e a não inclusão de outras apresentações da doença de Parkinson, especialmente as não motoras (disautonomia, perda cognitiva, alterações comportamentais, distúrbios do sono, etc.). Além disso, a escala pode não refletir adequadamente um maior acometimento dos membros superiores e pode dar a falsa sensação de uma progressão linear e temporalmente similar em cada estágio.
Escala de Hoehn e Yahr original |
I – Envolvimento apenas unilateral com mínima ou nenhuma perda funcional |
II – Envolvimento bilateral ou axial, sem comprometimento do equilíbrio |
III – Doença bilateral: incapacidade leve a moderada com alteração de reflexo postural (desequilíbrio ao virar-se ou empurrado pela frente quando com os pés juntos e olhos fechados). Funcionalmente apresenta restrição de suas atividades, mas pode exercer atividade laboral dependendo de qual o emprego. Fisicamente independente. |
IV – Doença grave e incapacitante; ainda capaz de andar ou ficar em pé sem ajuda |
V – Acamado ou cadeirante, a não ser que receba ajuda |
Escala de Hoehn e Yahr modificada |
1 – Envolvimento unilateral apenas |
1.5 – Envolvimento unilateral e axial |
2 – Envolvimento bilateral, sem alteração de equilíbrio |
2.5 – Envolvimento bilateral e do equilíbrio corporal, mas recuperação no teste de retropulsão (de um a três passos e sem queda) |
3 – Doença bilateral leve a moderada e comprometimento do equilíbrio (recuperação com mais de três passos na retropulsão ou necessitando de apoio para evitar quedas). Capaz de viver de forma independente. |
4 – Doença bilateral e comprometimento grave do equilíbrio, mas ainda capaz de caminhar o permanecer de pé sem ajuda |
5 – Paciente acamado ou cadeirante a não ser que receba ajuda |
Interpretação*:
A escala de Hoehn e Yahr foi (original e modificada) serve para estratificar a evolução do paciente com doença de Parkinson. A própria estratificação já direciona o examinador quanto ao grau de evolução da doença. Contudo, quanto ao grau de incapacidade, pode-se considerar que:
Estágios um, dois e três: incapacidade funcional level
Estágios quatro e cinco: incapacidade grave
Ressalta-se que, mais importante do que avaliações e classificações pontuais, é a aplicação seriada do instrumento e o julgamento quanto a variações ao longo do tempo.
* Salienta-se que os instrumentos de avaliação geriátrica devem ser utilizados em conjunto com anamnese e exame físico. Devendo ser interpretados sob a luz de julgamento clínico
Referências:
Goetz CG, Poewe W, Rascol O et al. Movement Disorder Society Task Force report on the Hoehn and Yahr staging scale: status and recommendations. Mov Disord 2004; 19(9): 1020-8.
Hoehn MM, Yahr MD. Parkinsonism: onset, progression and mortality. Neurology 1967; 17(5): 427-42.
Zhao YJ, Wee HL, Chan Y et al. Progression of Parkinson’s Disease as Evaluated by Hoehn and Yahr Stage Transition Times. Mov Disord 2010; 25(6): 710-716.