Fibrilação Atrial
A fibrilação atrial (FA) é a arritmia cardíaca mais comum na prática clínica. Caracteriza-se pela perda da efetividade da contração atrial devido à presença de um ritmo elétrico caótico e irregular, geralmente com frequências elevadas e despolarizações ectópicas, frequentemente originadas próximas às veias pulmonares no átrio esquerdo (AE).
Essa desorganização da atividade elétrica compromete a sístole atrial, reduzindo o enchimento ventricular e, consequentemente, a pré-carga ventricular. Como resultado, há estase sanguínea no átrio, o que aumenta o risco de formação de trombos. Caso esses coágulos sejam lançados na circulação arterial sistêmica, podem ocasionar eventos tromboembólicos como o acidente vascular cerebral (AVC).
Além disso, a alta frequência de despolarizações atriais eleva a frequência cardíaca, contribuindo para sintomas como palpitações e podendo levar à insuficiência cardíaca.
A fibrilação atrial pode se apresentar em diferentes formas: aguda, paroxística, persistente, permanente. Quando não controlada, especialmente nos casos crônicos, pode haver remodelamento elétrico e alterações estruturais no átrio esquerdo, o que aumenta o risco de manutenção e agravamento da arritmia.
Os sintomas mais comuns da FA incluem: fadiga, dispneia aos esforços, palpitações, dor torácica. Em alguns casos, o paciente pode ser assintomático, o que torna o diagnóstico clínico mais desafiador. No exame físico, é comum identificar um ritmo cardíaco irregular. A confirmação é feita por meio de um eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações, no qual se observa a ausência da onda P e intervalos RR irregulares.
Embora a FA, por si só, não represente risco iminente de morte, está associada a complicações graves, como o AVC e outros eventos isquêmicos arteriais. Também pode provocar episódios de insuficiência cardíaca. Tais complicações podem levar à perda de independência, déficit cognitivo, internações recorrentes e aumento dos custos com saúde.
Dentre os fatores de risco não modificáveis para FA está a idade avançada é um dos principais fatores associados à FA. Estima-se que cerca de 25% dos indivíduos acima de 55 anos desenvolverão fibrilação atrial ao longo da vida, sendo mais prevalente e de início mais precoce em homens brancos. Fatores genéticos também podem contribuir.
A identificação e controle dos fatores de risco modificáveis é fundamental para reduzir a incidência e a gravidade da fibrilação atrial, além de prevenir complicações e morbidade. Os principais são: hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, obesidade, sedentarismo, consumo de álcool, tabagismo, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono, insuficiência cardíaca.
Ainda é discutível a utilização de escores para predição de risco de desenvolvimento de FA. Dentre os diversos já propostos, o mais replicado para ser o CHARGE-AF.
Para o tratamento da FA há necessidade de se avaliar o controle de ritmo e/ou de frequência cardíaca, da indicação de terapia anticoagulante, associada a avaliação de risco de sangramento.
Sugestões de leitura:
Elliott AD, Middeldorp ME, Van Gelder IC, Albert CM, Sanders P. Epidemiology and modifiable risk factors for atrial fibrillation. Nat Rev Cardiol 2023; 20 (6): 404-417.
Joglar JA, Chung MK, Armbruster AL, Benjamin EJ, Chyou JY, Cronin EM, et al. 2023 ACC/AHA/ACCP/HRS Guideline for the Diagnosis and Management of Atrial Fibrillation: A Report of the American College of Cardiology/ American Heart Association Joint Committee on Clinical Practices Guidelines. J Am Coll Cardiol 2024; 83(1): 109-279. doi: 10.1016/j.jacc.2023.08.017.
Linz D, Gawalko M, Betz K, Hendricks JM, Lip GYH, Vinter N, et al. Atrial Fibrillation: epidemiology, screening and digital health. Lancet Reg Health Eur 2024; 37: 100786. doi: 10.1016/j.lanepe.2023.100786.
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