Nefrogeriatria
O envelhecimento está associado a mudanças significativas em diversos sistemas orgânicos, incluindo o sistema renal. Estima-se que, entre os 30 e os 80 anos, ocorra uma perda de aproximadamente 20% a 25% da massa renal. Além disso, há uma redução progressiva no clearance de creatinina, estimada em 0,75 ml/min por ano, entre os 30 e os 90 anos. Alterações anatomofuncionais renais também são comuns, como um maior risco de perfusão renal prejudicada devido à aterosclerose, doenças cardiovasculares e disfunção autonômica, uma menor taxa de filtração glomerular por glomeruloesclerose e expansão mesangial, além de alterações tubulares, como atrofia, divertículos, fibrose intersticial e dificuldade no equilíbrio de eletrólitos.
Entre os idosos, o declínio da função renal está associado a perda de capacidade física e funcional, bem como à piora da qualidade de vida. A prevalência de fragilidade também é mais elevada em pacientes com doença renal crônica (DRC). Esta condição frequentemente tem associação com osteoporose grave, pior desempenho cognitivo e maiores taxas de complicações cardiovasculares, como caquexia, hospitalizações recorrentes e mortalidade. A cada década de vida, o risco de desenvolver DRC aumenta em 2,5 vezes, evidenciando a relação entre o envelhecimento e a deterioração renal.
A avaliação da função renal em idosos é desafiadora devido à alta prevalência de multimorbidades, polifarmácia e declínio funcional. Além disso, a identificação de pacientes com perda de função renal pode ser dificultada pelas alterações na composição corporal, como a perda de massa muscular, que interfere nos níveis séricos de creatinina, e pelas anormalidades na relação albumina-creatinina, frequentemente utilizadas para definir DRC. A literatura também debate possíveis mudanças nos critérios de classificação da DRC em idosos, considerando que a evolução clínica pode diferir significativamente em comparação com indivíduos mais jovens.
Por fim, ainda há um intenso debate sobre o momento ideal para iniciar a terapia renal substitutiva em idosos. Há uma tendência crescente em adotar condutas mais conservadoras, especialmente em pacientes frágeis. Paralelamente, o aumento da sobrevida de pacientes idosos transplantados renais apresenta novos desafios, já que essas pessoas enfrentam questões de saúde específicas relacionadas ao envelhecimento e ao manejo do transplante.
Sugestões de leitura:
Garasto S, Fusco S, Corica F, Rosignuolo M, Marino A, Montesanto A et al. Estimating glomerular filtration rate in older people. Biomed Res Int 2014; 2014: 916542. doi: 10.1155/2014/916542.
KDIGO 2024 Clinical Practice Guideline for the Evaluation and Management of Chronic Kidney Disease. Kidney Int 2024; 105(4S):S117-S314. doi: 10.1016/j.kint.2023.10.018.
Noronha IL, Santa-Catharina GP, Andrade L, Coelho VA, Jacob-Filho W, Elias RM. Glomerular Filtration in the aging population. Front Med 2022; 9: 769329. doi: 10.3389/fmed.2022.769329.