Força de Preensão Palmar (FPP)
A Força de Preensão Palmar (FPP ou grip strength) é a medida da força da mão obtida por meio de um dinamômetro de preensão manual. A FPP tem boa correlação com a força global do indivíduo, sendo preditora de diversos desfechos, como mortalidade, sarcopenia, fragilidade, quedas e funcionalidade. Por isso, é uma ferramenta prática e prognóstica, especialmente para indivíduos idosos, além de ser uma referência importante em programas de reabilitação motora.
O dinamômetro mais citado na literatura é o Jamar (avaliação por sistema hidráulico), que se destaca por ser portátil, de fácil utilização e por fornecer leituras rápidas. Ele permite ajustar a altura da alça em cinco posições diferentes, o que facilita a adequação para diferentes perfis de pacientes. Contudo, seu peso (cerca de 1,5 libras ou 600g) pode ser uma limitação, especialmente em indivíduos com déficits extremos de força. As medidas são apresentadas em quilograma-força e libra-força, e é recomendada a calibração periódica do dispositivo, idealmente uma vez por ano, caso seja utilizado diariamente.
Outros modelos de dinamômetros também são descritos, como o Smedley (instrumento mecânico) e o Martin Vigorimeter (medida pneumática). Para avaliações seriadas, é indicado que se utilize sempre o mesmo modelo, uma vez que pode haver variação nas medidas entre os dispositivos. Por exemplo, o Jamar tende a registrar valores superiores aos obtidos pelo Smedley, o que pode estar relacionado tanto às características do instrumento quanto ao posicionamento durante a avaliação. Enquanto o Smedley é geralmente utilizado com o membro superior estendido, o Jamar costuma ser empregado com o braço flexionado a 90 graus.
Na realização da medida, é fundamental observar a calibração do aparelho, o posicionamento correto do paciente e garantir que ele compreenda bem as instruções. Alguns fatores influenciam a força de preensão, como a idade (com força máxima entre 25 e 35 anos, seguida de um declínio gradual), o gênero (com força maior nos homens) e a dominância lateral (com cerca de 10% mais força na mão dominante). Além disso, a perda de força é comum em estados de desnutrição, sarcopenia e redução da funcionalidade. Não há, entretanto, uma influência significativa do tamanho da mão nos resultados.
A padronização do posicionamento e da técnica de execução é crucial, já que variações nos ângulos articulares podem alterar os valores obtidos e impactar a avaliação do paciente. O protocolo mais utilizado é o da American Society of Hand Therapists (ASHT), embora existam outros, como o protocolo de Southampton e o canadense. É essencial prestar atenção à técnica, devido à grande quantidade de variáveis que podem afetar os resultados, como a quantidade de repetições, o intervalo entre as tentativas, mudanças no posicionamento, o modelo de dinamômetro adotado, o nível de encorajamento durante o teste e o critério para registrar os valores (valor máximo, média dos valores, etc.).
Exemplos de protocolos propostos para medida da Força de Preensão Palmar (FPP)
Protocolo ASHT | Protocolo Southamptom | Protocolo Canadense | |
Posicionamento | Paciente sentado em uma cadeira sem braços, com os pés totalmente apoiados no chão, quadris o mais próximos do encosto possível, quadris e joelhos formando ângulos de 90 graus | Paciente sentado (mesma cadeira em cada avaliação) | Paciente em posição ortostática, com pés ligeiramente afastados |
Posição dos braços | – Ombros aduzidos e em rotação neutra; – Cotovelos: Flexionados a 90 graus, antebraço em discreta pronação (posição neutra); – Punhos: Entre 15 e 30 graus de extensão (dorsiflexão) e 0 a 15 graus de desvio ulnar. | – Braços apoiados nos braços da cadeira; – Punhos logo após o braço da cadeira, em posição neutra, polegar voltado para cima. | Braços totalmente esticados, com antebraços ligeiramente afastados do corpo e punhos na altura das coxas |
Tentativas | Três tentativas | Três tentativas de cada lado, alternadamente (começar com mão direita) | Realizar em cada uma das mãos |
Dinamômetro | Jamar (na segunda posição) | Jamar (O polegar fica de um lado da alça e os demais quatro dedos do outro lado) | Smedley |
Tempo de medida | No mínimo 3 segundos | XXX | XXX |
Tempo de descanso | No mínimo 15 segundos | XXX | XXX |
Instruções | “Este teste irá avaliar a sua força de preensão. Quando eu disse “vai”, aperte o máximo que conseguir até eu pedir para parar.” “Antes de cada tentativa irei perguntar se você está pronto e então direi “VAI”. Pare imediatamente se sentir qualquer dor ou desconforto incomuns, em qualquer momento do teste.” “Tem alguma pergunta?” “Está pronto?”, “VAI” “Força… força… força…” “Pode relaxar” | “Eu quero que você aperte o máximo que puder, no máximo de tempo possível, até eu falar para parar.” “Aperte… Aperte… Aperte… Pare!” (quando a agulha parar de subir) | Paciente deve apertar o dinamômetro o mais forte possível, exalando ar enquanto realiza o esforço |
O manual da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (Valente et al. 2022) para sarcopenia sugere orientações semelhantes às da ASHT. Assim como o segundo consenso europeu para sarcopenia (EWGSOP2 – Cruz-Jentoft et al. 2019). Ambos sugerem, como alternativa para a medida da FPP, a avaliação de força com teste de sentar-levantar de uma cadeira durante 30 segundos ou avaliação do tempo necessário para cinco repetições.
Interpretação*:
Os principais consensos adotam diferentes pontos de corte para definir risco para sarcopenia a partir da FPP. Os cortes adotados foram obtidos a partir de análise de diferentes populações. Sugere-se a escolha pelos valores propostos por documento da SBGG (Valente et al 2022).
Homens < 27quilogramas-força (kgf)
Mulheres < 16 kgf
Valores de referência para a FPP foram propostos a partir de dados do estudo Fibra-BR e publicados por Reichenheim et al. (2021). Os autores também construíram gráficos com os percentis, a partir do gênero e altura.
Ressalta-se que, mais importante do que avaliações e classificações pontuais, é a aplicação seriada do instrumento e o julgamento quanto a variações ao longo do tempo.
* Salienta-se que os instrumentos de avaliação geriátrica devem ser utilizados em conjunto com anamnese e exame físico. Devendo ser interpretados sob a luz de julgamento clínico
Referências:
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